Racismo, um peso adicional para a fase prateada dos negros brasileiros
O acúmulo de uma série de aspectos negativos ao longo da vida vai resultar, inevitavelmente, num quadro desalentador para a etapa final da existência. A uma semana do Dia Nacional da Consciência Negra, comemorado no dia 20 de novembro, vale lembrar o que foi tristemente comprovado para os negros brasileiros prateados no relatório “Envelhecimento e Desigualdades Raciais”, lançado em julho de 2023 pelo Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) em parceria com o Itaú Viver Mais.
O estudo evidenciou como as desigualdades geradas pelo racismo desde a parte inicial da vida, como baixa escolaridade, insegurança alimentar, trabalho precário, falta de acesso a serviços de saúde e de cultura e a exposição à violência, vão desembocar numa fase madura bem mais difícil e complexa do que a enfrentada pelos brancos.
Para o estudo foram entrevistadas presencialmente 500 pessoas com mais de 50 anos em São Paulo, Salvador e Porto Alegre em 2021. Essas capitais foram selecionadas por apresentarem um índice elevado de envelhecimento populacional, no qual o grupo dos prateados cresce mais do que o de jovens. Embora não seja considerada idosa pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a faixa dos 50 aos 60 anos foi incluída no trabalho a fim de se analisar o envelhecimento como um processo contínuo, consequência de diversas vivências acumuladas.
O trabalho estabelece um referencial denominado índice de envelhecimento ativo, formado por fatores capazes de influenciar na qualidade de vida, como saúde física e mental, condição financeira (trabalho), sociabilidade, mobilidade, segurança e inclusão digital e obtido a partir das respostas a uma série de perguntas aplicadas aos entrevistados. O índice varia de 0 a 100, e quanto maior o valor, melhor a situação dos entrevistados.
O estudo mostrou, sem surpresas, que nas três cidades, nas diferentes faixas etárias a partir dos 50 anos (50-59, 60-69, 70-79 e 80 ou mais), em geral os brancos apresentam índice de envelhecimento ativo maior que os negros. Em São Paulo, por exemplo, o índice de envelhecimento ativo na faixa de 60 a 69 anos é de 51 para as mulheres negras e de 53,3 para as brancas. No caso dos homens, o índice varia de 46,5 para os negros a 55,1 para os brancos.
O relatório capta outros indicadores importantes que evidenciam essas disparidades. Por exemplo, no quesito acesso a serviços privados de saúde, em São Paulo, na faixa de 60 a 69 anos, 30% das entrevistadas brancas e 27% das negras conseguem esse tipo de atendimento; já entre os homens, a diferença varia entre 46%, para os brancos, e um assombroso 1% para os negros. Na mesma cidade e faixa etária, 63% das mulheres negras dizem considerar difícil ou muito difícil manter as contas mensais em dia, ante 54% das brancas; entre os homens, a diferença varia de 58% (negros) a 38% (brancos).
O estudo é uma ferramenta básica para que esse melancólico cenário comece a mudar o quanto antes para melhor, espera a GRIZZ.
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