“Império da Dor”: série traz retrato duro e comovente da crise de opioides
Um dos medicamentos mais polêmicos das últimas décadas, o OxyContin – uma versão turbinada da oxicodona, analgésico opioide duas vezes mais forte que a morfina criado em 1916 para combater sintomas moderados a severos de dor – está no centro de uma das melhores séries de streaming deste ano: Império da Dor, lançada em agosto pela Netflix. A convivência mais constante com as dores no avançar da idade torna especialmente interessante essa abordagem sobre os opioides, como um alerta para conhecer o cuidado com os medicamentos que todos precisam ter.
Dividida em seis episódios, a série acompanha a jornada da família Sackler, dona do laboratório Purdue Pharma e conhecida pela atuação filantrópica, na criação e promoção desse remédio – cuja aceitação entre médicos e o público responde por boa parte da crise dos opioides que tomou conta dos Estados Unidos – e alguns dos tristes desdobramentos que vieram a seguir.
Como todo opioide, o OxyContin causa, entre outros efeitos colaterais, euforia, prisão de ventre, perda de apetite, depressão e alucinações. Pior do que isso, seu uso não controlado leva à dependência e ao vício. (Só em 2021, o Instituto Nacional de Saúde dos EUA atribuiu à overdose de remédios como o OxyContin a morte de mais de 70 mil pessoas no país.) Mas ao lançar o produto, em 1995, a Purdue deu-lhe uma inusitada e agressiva abordagem de marketing: uma das táticas, mostrada na série, era usar jovens e belas estudantes para convencer médicos e donos de farmácias a ajudar a vender o medicamento. Médicos recebiam viagens com despesas pagas para seminários sobre como lidar com sintomas de dor. O OxyContin ganhou até um mascote de pelúcia, criado para ajudar a popularizar o produto. O resultado do esforço foram receitas estimadas em US$ 35 bilhões para a Purdue.
A estratégia por trás do lançamento do remédio foi obra de Richard Sackler (ótima interpretação de Matthew Broderick), responsável por comandar a Purdue após a morte de seu tio, Arthur. A falta de apreço pela vida e pelo bem-estar humano aparentemente já vinham de longe: Arthur (que era médico), por exemplo, defendia a lobotomia como modelo de negócio. A série mostra cenas de diálogos imaginários entre Richard e Arthur nos quais o tio inspira e reforça a condução que o sobrinho está dando aos negócios.
Outros eixos da trama acompanham a burocrata Edie Flowers (Uzo Aduba), uma síntese de funcionários encarregados de investigar a Purdue Pharma e o OxyContin, e o mecânico Glen Kryger (Taylor Kitsch), personagem que, após um acidente doméstico com um dos filhos, fratura a coluna e, na recuperação, começa a tomar OxyContin e torna-se viciado no remédio. Criado especialmente para a série, Kryger é outra eficiente fusão ficcional dos milhares de vítimas que esse tipo de remédio tem feito nos EUA.
Processada a partir de 2019 por diversos estados americanos, a Purdue Pharma enfrenta atualmente um pedido de falência. O caso ainda vai ter outros desdobramentos, mas Império da Dor já é uma excelente e impactante introdução a essa escabrosa história, avalia a GRIZZ.
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