Escrever é terapêutico? A depender do exemplo da paulistana Neuza Guerreiro de Carvalho, 91 anos, a resposta só pode ser positiva. Bem antes de prateados fazerem sucesso nas redes sociais, ela já tinha seu veículo virtual – o blog da Vovó Neuza, criado em 2008. Nesse espaço, ela (que não se diz escritora) já postou centenas de textos, que vão de relatos pessoais a indicações de livros, músicas e locais de São Paulo com os quais se identifica.

Formada em História Natural em 1951 pela USP e professora de ciências por 30 anos, mãe de um casal de filhos e avó de quatro netos, Neuza notou em 1997 que não conseguia acompanhar a conversa da geração mais nova da família. Pediu então ajuda ao filho para conhecer o mundo online.

A experiência foi renovadora – só o seu já extenso vocabulário, ela conta, aumentou cerca de cem palavras. E serviu para dar início à ideia do blog – “uma colcha de retalhos”, comentou Neuza, que o atualiza quando quer e fala apenas sobre os temas que aprecia. Os relatos de sua rotina durante a pandemia fazem sucesso, pelos detalhes e pela linguagem bem despojada.

Ela não se limita a essa atividade. É também responsável pelo curso semestral (atualmente, em versão online) “Resgate da Memória Autobiográfica”, na USP 60+, em que os alunos aprendem a contar sua trajetória. Trechos de escritores consagrados, como Pedro Nava, Marcel Proust, Graciliano Ramos e Gabriel García Márquez, são exemplos, para os matriculados, de abordagens literárias de assuntos a serem tratados nos relatos. Ela estima que mais de 150 alunos já passaram pelo curso. E, celebra a GRIZZ, não dá mostras de querer reduzir o ritmo.